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O mofo cinzento causado pelo patógeno fúngico Botrytis cinerea é uma doença que afeta muitas culturas. Embora esteja muito bem documentado, seu manejo é um desafio devido à variedade de hospedeiros e às suas diversas formas de desenvolvimento, de propagação e de sobrevivência.
Compreender as fases do ciclo de vida do B. cinerea em cada cultura é a chave para um manejo bem-sucedido.
Descubra tudo o que você precisa saber sobre esta doença e as melhores práticas para proteger sua cultura contra ela.
1 - A respeito da doença e fontes de inóculos
O mofo cinzento causado pelo patógeno fúngico Botrytis cinerea, pode infectar mais de 1000 espécies de plantas (Elad Y. et al., 2016). B. cinerea é capaz de infectar a maioria das partes das plantas, tais como folhas, flores, caules, pecíolos e frutos.
O manejo desta doença é um desafio devido à variedade de hospedeiros, infectando-os de diferentes formas e porque ela pode sobreviver como inúmeros tipos de inóculos, tais como micélios, conídios ou esclerócios presentes no solo e em detritos de culturas (Aleid J.D. & Wubben J.P., 2007).
Compreender o ciclo de vida de Botrytis em cada cultura
é a chave para o sucesso do seu manejo
Nas culturas em campo aberto como de morangos, framboesas, mirtilos, cebolas, alface e uvas, esta doença pode reduzir significativamente o rendimento e a qualidade pós-colheita.
Os esclerócios ao germinarem produzem o apotécio (local onde os esporos são formados) liberando grandes quantidades de esporos, que são facilmente transportados pela chuva ou pela irrigação aérea e assim depositados sobre as culturas. Os esporos também são transportados por correntes de ar para atingir culturas-alvo.
Outras fontes de inóculos são espécies de ervas daninhas comumente presentes em pomares de peras como a sorrel africana (Oxalis pes-caprae), bem como outras espécies de Oxalis, trevo doce branco (Melilotus alba Medicus.), alga comum (Stellaria media (L.) Vill.) e dente-de-leão (Taraxacum officinale G. H. Weber ex Wiggers), (Spotts R.A. & Serdani, M.., 2006).
O pólen exsudato de ervas daninhas comuns, em pomares e vinhedos, pode estimular o crescimento fúngico e aumentar a virulência do patógeno (Fourie J.F., & Holz G. 1998), após a chuva ou a irrigação.
2 - Botrytisem morangos cultivados em campo
Muitas variedades de morangos cultivados em climas frios, estão suscetíveis às infecções por B. cinerea quando ocorrem períodos prolongados de umidade nas folhas.
Condições elevadas de umidade podem ser causadas por chuvas, assim como por
uma grande variação entre as temperaturas diurnas e noturnas, especialmente quando corpos d’água estão próximos à cultura, como oceanos, represas, rios ou lagos
Os conídios de B. cinerea podem infectar as flores abertas do morangueiro (infecções primárias), enquanto os conídios de B. cinerea infectados vindos de partes de flores são as principais fontes secundárias de inóculos na penetração dos tecidos dos receptáculos dos frutos. (Bristow P. R. et al., 1986).
A germinação dos conídios de B. cinerea pode levar por volta de 8 h quando há uma película de água livre presente na superfície da planta (Jarvis W.R., 1962).
A necessidade de aplicações de fungicidas pode ser significativamente reduzida, uma vez que boas práticas culturais são aplicadas em culturas de morangos para diminuir os níveis de concentração de inóculos de B. cinerea.
O manejo de níveis de concentração de inóculos e infecções por B. cinerea nas culturas de morangos ao utilizar práticas culturais e aplicação de fungicidas
Práticas culturais
Remova as fontes de inóculos, como tecidos vegetais infectados ou frutos mumificados durante e após a estação dos morangos.
Cobertura do solo
Cubra os canteiros do morangueiro com palha ou com filme plástico para evitar que a cultura entre em contato direto com o solo.
A maior parte dos inóculos está presente no solo e em resíduos vegetais, que
combinados com a umidade do solo são favoráveis à germinação de conídios (Daugaard H., 1999).
Manejo do crescimento das culturas
Evite copas densas, pois podem criar um microclima favorável às infecções por B. cinerea.
O uso excessivo de fertilizante de nitrogênio pode produzir copas densas.
Manejo do sistema de irrigação
Evite sistemas por aspersão, pois podem espalhar B. cinerea e conídios sobre flores/frutos.
Sistemas de irrigação por gotejamento são preferíveis.
Proteção das culturas
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando fungicidas químicos e biológicos em alternância – desde a floração precoce (10% de flores abertas) – com um intervalo de 7 dias, é mais eficaz no controle do mofo cinzento causado por Botrytis.
Os fungicidas biológicos têm o benefício adicional de um intervalo de colheita dia zero e podem, portanto, ser aplicados durante o desenvolvimento dos frutos.
3 - Botrytisem videiras
Embora os esporos de B. cinerea sejam transportados pelo ar e possam vir de culturas vizinhas, a maior parte do inóculo que leva a um surto de Botrytis em um vinhedo tem origem na própria videira.
Há duas vias de infecção pelas quais a doença pode se iniciar em vinhedos e onde é possível determinar a podridão do cacho da videira causada por Botrytis.
💥 A primeira é uma infecção latente que começa no início da floração, seguida por bagas de uva infectadas no início da estação (Fig.2) (Beresford R.M. & Hill G.N. 2008). Um local comum de infecção ocorre quando a cápsula da flor (caliptra) se solta, deixando uma ferida. Em seguida, as bagas jovens em amadurecimento produzem agentes químicos antifúngicos naturais, limitando assim a propagação da B. cinerea. Os agentes químicos antifúngicos desaparecem, no entanto, à medida que as bagas amadurecem, as infecções latentes podem se desenvolver e se espalharem de baga em baga, apodrecendo o cacho. (Beresford R.M.& Hill G.N. 2008).
💥 Assim que a B. cinerea coloniza as flores, bagas abortadas e outros detritos no início da estação, o segundo meio de infecção ocorre quando é detectada dentro dos cachos. Esta se torna uma importante fonte de inóculo para a infecção das bagas (Fig. 2) quando os agentes químicos antifúngicos desaparecem durante o processo de maturação.
Fatores que influenciam a suscetibilidade da videira à infecção por Botrytis
Condições climáticas
Botrytis cinerea é uma doença de clima frio. Temperaturas entre 15°C e 23°C são ideais para a doença de Botrytis. Temperaturas >23°C, são menos favoráveis à doença.
As chuvas durante o início da primavera, pouco antes e depois do surgimento dos botões, é um fator chave na germinação da esclerótica Botrytis, que sobreviveu nas hastes do cacho.
Isto é suficiente para que haja inóculo tanto para a primeira quanto para a segunda via de infecção.
No entanto, as chuvas não são o único fator para prever o risco de infecções por Botrytis durante a maturação. Outro fator considerado de risco para infecção por Botrytis é a umidade das folhas, devido a condensação do ar durante a noite.
Quando um vinhedo está localizado próximo à água (rio, represa, lago), muitas vezes, as altas temperaturas diurnas e as baixas temperaturas noturnas causam condensação suficiente para promover a infecção por Botrytis.
Quanto mais tempo as condições de umidade persistirem, maior será a probabilidade de infecção
Arquitetura das copas
As copas densas podem criar um microclima nas videiras que é muito favorável à infecção por Botrytis, devido à retenção de umidade na copa por períodos mais longos. Ao mesmo tempo que copas fechadas reduzirão a penetração da aplicação por pulverização.
Fase de crescimento da videira
Durante a floração, especificamente logo após a queda da capsula da flor (caliptra), forma-se uma ferida, onde ocorreu a abscisão, criando uma via de entrada para o fungo. Gerando assim, o primeiro período de susceptibilidade da videira.
O segundo período mais suscetível ocorre nas bagas durante e após o amadurecimento. As bagas amolecem e os níveis de açúcar aumentam, o que permite a infecção.
Danos ao tecidoe
Qualquer tecido verde ferido é suscetível a Botrytis.
Em geral a ferida é causada por:
- práticas de cultivo em vinhedos, como operações com máquinas
- queda das bagas após chuvas
- alimentação por aves ou insetos e granizo ou geada.
O tecido lesionado é mais suscetível em ambientes úmidos, quando os esporos caem sobre o tecido em condições propícias à germinação e infecção.
Manejo dos níveis de concentração de inóculos e infecções por Botrytis nos vinhedos ao utilizar práticas culturais e aplicação de fungicidas
Manejo do crescimentoh
Evite cultivar copas densas, causadas por programas de fertilização com alto teor de nitrogênio. Copas menos densas promoverão uma boa circulação de ar e penetração da luz. Isto também permitirá uma secagem mais rápida das partes da planta e reduzirá o risco de doenças.
Práticas culturais
Remova as folhas ao redor dos cachos antes que eles se fechem, para melhorar a circulação de ar, evitar a retenção de umidade e otimizar a pulverização.
Prevenção
Previna ferimentos através do controle de insetos, aves e outras doenças de videiras.
Proteção de feridas
Proteja as feridas que foram causadas por máquinas de corte de folhas, aplicando biofungicidas microbianos que podem colonizar e proteger os locais da ferida imediatamente.
Monitorar
Monitore as condições climáticas, como períodos de chuva e umidade foliar.
Monitore também os danos nos tecidos através de práticas verdes, para proteger as bagas danificadas.
Proteção das culturas
Use fungicidas eficazes em um programa de MIP, alternando fungicidas químicos e biológicos para minimizar os resíduos químicos.
Utilize um plano de MIP baseado no período de chuvas e umidade foliar, temperatura e estágios suscetíveis de crescimento da cultura.
4 - Botrytisem culturas em estufa
O bolor cinzento Botrytis pode causar danos severos às culturas em estufas de legumes frutíferos, como tomates & pepinos, frutas macias como morangos & mirtilos e finalmente flores ornamentais como ciclâmens, rosas, crisântemos & cravos.
O sintoma mais característico é uma camada peluda cinza que cobre a área infectada. As infecções de caule em vegetais de estufa podem ser graves e causar o murchamento das plantas ao redor da área infectada (Fig. 3). Os danos e perdas nas culturas de hortaliças em estufas são causados principalmente pela morte das plantas após infecções no caule.
Os esporos de Botrytis podem entrar no espaço da estufa através de janelas abertas. Também é possível que mudas e estacas já possam chegar contaminadas com este patógeno (Elad, Y. & Yunis, H. 1993). Dentro da estufa, B. cinerea sobrevive nas superfícies de plantas cortadas, no material vegetal morto ainda preso à planta, nos detritos vegetais e no solo/meios de cultivo. As flores, os frutos, as folhas e os caules do tomateiro podem ser infectados pelo fungo. (Aleid J. & Wubben Jos. P. 2007)
Em estufas frias/não aquecidas com túneis altos e baixos, os períodos de infecção correspondem à condições climáticas favoráveis, tais como temperaturas frias (10 – 23°C) e chuvas seguidas de períodos de umidade elevada. Portanto, é possível prever o período de risco de infecção por B. cinerea. Práticas culturais, como o crescimento denso da copa das árvores, podem aumentar ainda mais o risco de infecção, causado por um microclima do qual o fluxo de ar é limitado e a água fica presa.
Em estufas quentes/aquecidas, a infecção por B. cinerea pode ser bem manejada ao manter as condições de umidade mais baixas. Entretanto, outras condições ambientais ainda desempenham um papel de risco favorável à doença de Botrytis. Uma vez que o único fator necessário para a germinação de esporos é a presença de um microfilme de água invisível na superfície da planta por 6 – 8 dias. Portanto, é importante notar que o depósito de água ocorre quando a planta é mais fria que o ar ao redor (Oke, T.R. 1978). Isto significa que mesmo em estufas aquecidas, haverá sempre o risco de infecção por B. cinerea, sendo assim necessárias medidas preventivas.
Manejo dos níveis de concentração de inóculos de B. cinerea e os riscos de infecções nas culturas em estufa
Controle frequente
Verifique se o material de propagação está infectado e descarte quaisquer mudas infectadas antes de entrar na estufa.
Elimine as infecções do caule
Evite que a planta morra ao eliminar as infecções do caule antes que este seja danificado por completo
Feridas tradadas pontualmente
Feridas provocadas pela remoção das folhas inferiores, trate-as com um biofungicida eficaz que irá colonizar o local da ferida.
Evite ter qualquer matéria orgânica
Evite ter quaisquer matérias orgânicas, como detritos vegetais na estufa, pois estes podem ser uma fonte de inóculo para a próxima safra.
Descarte os resíduos vegetais
Descarte os resíduos vegetais queimando-os ou enterrando-os longe da estufa.
Boa circulação de ar e ventilação
Mantenha uma boa circulação e ventilação de ar, reduzindo assim as chances de condensação do ar. É possível manter a temperatura constante da planta e do ar, movendo o ar através da cultura.
Manejo do crescimento das culturas
Evite o uso excessivo de fertilizantes nitrogenados, pois provocam copas densas. Desta forma será criado um microclima adequado que reduzirá a suscetibilidade da cultura à infecção por Botrytis (Elad, Y. & Yunis, H. 1993).
Proteção das culturas
Inicie aplicações de fungicidas assim que a doença for detectada pela primeira vez. Em culturas em estufa onde as condições climáticas são bem administradas, os fungicidas biológicos são frequentemente o melhor método para controlar Botrytis, já que os níveis de concentração de inóculos são mais baixos.
Aplique fungicidas durante os períodos de alto risco da doença do mofo cinzento e continue até o final do período de risco.
5 - References
1] Aleid J.D. & Wubben J.P (2007): EPIDEMIOLOGY OF BOTRYTIS CINEREA DISEASES IN GREENHOUSES. Elad Y et al (eds.) Botrytis: Biology, Pathology and Control, 319-333.
2] Beresford, R.M. & Hill, G.N. (2008): Botrytis control without fungicide residues – is it just a load of rot? New Zealand Winegrower 12 (2): 104-106.
3] Bristow, P.R., McNicol, R.J. & Williamson, B. (1986): Infection of strawberry flowers by Botrytis cinerea and its relevance to grey mold development. Ann. Appl. Biol. 109(3), 545–554.
4] Daugaard, H. (1999): Cultural methods for controlling Botrytis cinerea pers. in strawberry. Biol. Agric. Hortic. 16(4), 351–361.
5] Elad, Y. & Yunis, H. (1993): Effect of Microclimate and Nutrients on Development of Cucumber Gray Mold (Botrytis cinerea). Phytoparasitica 21(3), 257-268.
6] Elad, Y., Pertot, I., Cotes Prado, A.M. & Stewart, A. (2016): Plant Hosts of Botrytis spp. In: Botrytis – The Fungus, the Pathogen and Its Management in Agricultural Systems, (Fillinger, S. and Elad, Y., eds), 413–486.
7] Fourie, J.F. & Holz, G. (1998): Effects of Fruit and Pollen Exudates on Growth of Botrytis cinerea and Infection of Plum and Nectarine Fruit. Plant Disease 82(2) 165-170.
8] Jarvis, W.R. (1962): The infection of strawberry and raspberry fruits by Botrytis cinerea Fr. Ann. Appl. Biol. 50(3), 569–575.
9] Oke, T.R. (1978): Boundary Layer Climates. Methuen and Co. Ltd. London
10] Spotts, R. A., & Serdani, M. (2006): Inoculum sources of Botrytis cinerea important to pear orchards in Oregon. Plant Dis. 90, 750-754.
11] Williamson, B., Tudzynski, B., Tudzynski P. & van Kan J. A. L. (2007): Molecular Plant Pathology 8 (5), 561 – 580.
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