Masanobu Fukuoka escreveu no prefácio de seu livro sobre a agricultura natural: “A ideia fundamental da agricultura natural é que ela deve manter-se isenta de qualquer ingerência e intervenção humanas. Ela deve se esforçar em restaurar a natureza destruída pelo saber e a ação do homem…”. Ele levanta como principio de base, que a agricultura é “incomodada” pelo homem”.
O principio fundamental da agricultura não é alimentar os homens?
1 - A intervenção humana no centro das recoltas
Definição da agricultura de acordo com o dicionário Larousse: «conjunto de atividades desenvolvidas pelo homem, em um meio biológico e socioeconômico determinado, para obter os produtos vegetais e animais que lhe são úteis, em particular aqueles destinados a sua alimentação».
A agricultura natural seria, então, uma figura de estilo poética, um oximoro? Quantos hectolitros por hectare uma vinha poderia produzir sem intervenção humana?
O simples fato de existirmos é intervencionista e destrutor. Nós somos, por essência, consumidores de recursos. Sem esquecer nossa propensão à reprodução.
2 - Nossos ancestrais: as bactérias
Surgidas há aproximadamente 4 bilhões de anos, as bactérias continuam se multiplicando, tentando inexoravelmente ocupar o máximo de espaço e de meio de vida. Ela usa todos os golpes possíveis em sua luta pela vida:
- Competição pelos nutrientes
- Competição pelo espaço
- Destruição do inimigo
A natureza evolui, equilibra-se de outra forma, modelada por essas lutas internas.
3 - A intervenção do homem é «natural»?
Imaginemos uma agricultura com menos insumos, sem obras inúteis cujo objetivo é nos alimentar melhor e por mais tempo.
A inoculação de microrganismos
Desde a antiguidade, a humanidade utiliza microrganismos para fermentar o suco de uva e fabricar nossos alimentos. As bactérias lácteas que fabricam nossos queijos provêm originalmente dos solos, antes de colonizar o rúmen das vacas!
A inoculação consiste em «injetar» um microrganismo selecionado e produzido pelo homem num meio. Essa ação seria antinatural?
O meio pode ser modificado duravelmente?
Louis Pasteur dizia: «o micróbio não é nada, o terreno é tudo». A capacidade que um micróbio terá de se multiplicar no meio, determinará sua longevidade e sua dinâmica populacional.
É ilusório acreditar que a inoculação de um solo resolverá ad vitam aeternam os problemas de mineralização, de blocagem de elementos nutritivos e outros desequilíbrios. Mesmo quando é acrescentado em grande quantidade, um microrganismo selecionado por suas propriedades agronômicas entrará necessariamente em competição com os microrganismos indígenas que já estão, por definição, bem adaptados ao meio.
A inoculação de plantas, por outro lado, pode ter a mesma duração que o tempo de vida das plantas hospedeiras.
É, por exemplo, o princípio das bactérias rizoféricas, que chamamos também de PGPR (Plant Growth Promoting Rhizobacteria = rizobactérias que favorecem o crescimento das plantas), que vivem na rizoesfera, quer dizer, na zona do solo que fica na proximidade imediata das raízes. Essas PGPR são atraídas e fidelizadas pelos exsudatos radiculares liberados pela planta, dos quais elas se alimentam e que a ajudam a fixar-se nas raízes. Em contrapartida, essas rizobactérias têm comportamentos benéficos para a planta (solubilização do fósforo, quelato de minerais etc…).
Um outro exemplo é o dos fungos micorrizanos que criam uma relação simbiótica com a planta, recuperando o açúcar oriundo da fotossíntese, mas oferecendo uma troca das redes micelianas que vão prolongar as raízes e permitirão à planta uma exploração do solo mais minuciosa e profunda, e consequentemente uma melhor nutrição.
4 - Em conclusão
Se os agricultores desejam agir o mais naturalmente possível para conservar o estado produtivo de seus solos ao longo do tempo, eles não têm outra escolha a não ser implicarem-se em sua preservação. E se o solo é a base de tudo, não se deve também hesitar no que diz respeito à proteção do vegetal ou à otimização dos plantios e sementes. Efetivamente, como considerar uma agricultura sustentável que não considere os rendimentos? Produzir de modo quantitativo e qualitativo sempre foi o objetivo da agricultura. Com o aumento da população mundial e a diminuição das superfícies agrícolas ou ainda com a degradação dos solos (ver o site da FAO), é a ciência e não as crenças ou práticas ancestrais que serão capazes de ajudar a enfrentar os desafios de uma nova agricultura. Aquela que alimentará corretamente o humano ao mesmo tempo em que integra as restrições ambientais. A inoculação das plantas pelas simbioses constituem essa via, mesmo que não seja a única.
Fique informado
Obtenha conteúdo direto na sua caixa de entrada.
Ótimo! Você está inscrito em nossa lista.
Conte-nos um pouco mais sobre você. Ajustaremos nossos e-mails às suas preferências.