As plantas são naturalmente colonizadas por bilhões de microrganismos.
O estudo das comunidades microbianas associadas às plantas nos permitiu evidenciar diversos microrganismos que apresentam interesse agronômico.
Alguns podem, por exemplo, proteger as culturas participando na luta biológica, melhorando a nutrição das plantas ao tornar elementos minerais bloqueados no solo solúveis, ou ainda estimulando o crescimento das raízes pela secreção de fitormônios.
Cada vez mais, preparações microbianas com virtudes “estimulantes”, fertilizantes ou fitofarmacêuticas são propostas ao agricultor.
Como se encontrar nessas ofertas atuais? Como escolher os produtos certos?
1 - O microrganismo que você compra deve ser perfeitamente identificável
Primeiramente, quando você compra um produto, você sempre deve poder identificar o que você compra.
Os microrganismos são caracterizador por gênero, espécie e estirpe.
O gênero, a espécie e a estirpe devem sempre estar presentes na etiqueta.
2 - Por que a noção de estirpe é essencial
A qualidade de um microrganismo também é influenciada pela estirpe.
Alguns gêneros: Lactobacillus, Bacillus, Pseudomonas, Trichoderma, Chlonostachys, Glomus…
No interior de um mesmo gênero, encontramos diversas espécies: Bacillus cereus, Bacillus subtilis…
No interior de uma mesma espécie, distinguimos enfim a estirpe, geralmente uma sequência de letras e números: Bacillus amyloliquefaciens IT45 ; Chlonostachys rosea J1446…
Essa noção, inclusive, demonstrou sua importância recentemente na crise do coronavírus, onde pudemos constatar sua transmissibilidade ou a virulência de um mesmo vírus.
Se você identificou a eficácia de um produto, você não poderá substitui-lo por um produto que contém um microrganismo do mesmo gênero, da mesma espécie, mas poderá substitui-lo por um produto de estirpe diferente.
Seu fabricante deve sempre garantir a mesma estirpe.
É a estirpe que determina a eficácia e a ausência de toxicidade de um microrganismo.
3 - Qual é a concentração ótima?
Os microrganismos estão por todos os lugares. Nós os encontramos em nossa pele, no nosso corpo – sabe-se hoje, por exemplo, que nosso corpo hospeda mais microrganismos que células (em nossos intestinos, em nossa pele e até na nossa saliva que é geralmente saturada de microrganismos numa proporção de 108 UFC/milímetro de saliva) – encontramos microrganismos na terra, no topo das montanhas mais altas e até nas profundezas dos oceanos, nas nuvens, na areia…
Então, dizer que um produto – tomemos o exemplo do fertilizante – contém microrganismos, é intrínseco. Ele sempre terá. A verdadeira pergunta é: quantos ele contém?
Se quisermos poder influenciar um meio com um acréscimo de microrganismos que apresentem um interesse agronômico, deveremos acrescentar a concentração certa.
A questão é evidentemente complicada, pois a agronomia não é uma ciência exata e varia em função de tantos parâmetros, que uma resposta única parece leviana. Contudo, nossa experiência de mais de 10 anos nos permitiu constatar que um acréscimo inferior a 2.1012 UFC / ha (=7.10^11 UFC / ac) dão resultados frequentemente aleatórios.
O que são as Unidades Formadoras de Colônias (UFC)
Os microrganismos não são contabilizados em kg ou em tonelada, mas em UFC/g: Unidades Formadoras de Colônias por grama de produto bruto. As UFC (ou CFU em inglês) definem o número de bactérias ou fungos viáveis capazes de se multiplicar (e consequentemente formar uma colônia).
Que tal um pouco de matemática?
Para dar uma ordem de ideia, uma população bacteriana a 106 UFC/g em um produto pode ser considerada como um contaminante, ou seja, uma quantidade negligenciável.
Em microbiologia, fala-se mais frequentemente de bilhões de UFC/g (109) para as bactérias.
A concentração sempre deve ser visível na etiqueta do produto.
4 - Quanto tempo eu posso conservar o produto
Os microrganismos são seres vivos e são, de acordo com a composição deles, mais ou menos sensíveis ao meio ambiente (temperatura, pressão, pressão osmótica, umidade etc.).
Por exemplo, as bactérias do gênero Bacillus ou a maioria das estruturas que compõem os fungos filamentosos são frágeis e podem dificilmente ser conservadas por muito tempo em lugares úmidos. Contudo, esses microrganismos podem adotar uma forma capaz de resistir a uma grande variedade de estresse: os esporos.
As tecnologias atuais nos permitem produzir microrganismos sob a forma de esporos em alta concentração, permitindo conservá-los por mais tempo. Eles vão germinar somente quando estiverem em condições e ambiente favoráveis.
Desconfie das formas líquidas aguadas que são frequentemente pouco estáveis.
Informe-se junto ao seu fornecedor e verifique independentemente (internet ou amigos) a sensibilidade à estocagem do microrganismo (gênero, espécie, estirpe) que você deseja comprar.
A duração de conservação ou a data limite de utilização devem estar presentes na etiqueta.
5 - Quando e como aplicar um produto à base de microrganismos?
O modo de utilização é determinante para a eficácia do produto.
Uma aplicação no momento certo, no lugar certo, em boas proporções terá uma influência sobre a eficácia do produto. Para isso, você deve ser particularmente vigilante sobre os seguintes pontos:
- A preparação
- A dose
- O período de aplicação (geralmente, os microrganismos gostam das condições úmidas e as temperaturas nem muito frias nem muito quentes, na primavera ou no outono).
- O modo de aplicação / equipamento
- A zona na qual aplicar a preparação (zona próxima de raízes, nas sementes, na folhagem…).
- Para cada microrganismo existe um lugar de vida privilegiado e consequentemente um tempo de vida.
- O número de aplicações.
Certos microrganismos vão se associar duravelmente à planta, como os fungos micorrízicos, e outros terão um tempo de vida mais limitado, pois serão rapidamente em competição com os microrganismos indígenas e a repetição das aplicações se revelarão necessárias.
Os microrganismos são produtos técnicos, é indispensável respeitar devidamente as instruções de preparação e de aplicação.
A dose e as precauções de uso sempre devem estar presentes na etiqueta.
6 - Quais são as propriedades dos microrganismos?
Os microrganismos não são princípios ativos ou fertilizantes tradicionais. Eles são verdadeiros parceiros das culturas com as quais estabelecem relações complexas que vão muito além da função para a qual são selecionados.
Mas eles não podem resolver todos os problemas sozinhos! Eles possuem geralmente especificidades próprias.
Por exemplo, para mineralizar a matéria orgânica, não basta aplicar uma sorte de microrganismo. Um conjunto de atores entra em jogo. Isso começa com os fungos, os actinomicetos, depois as bactérias.
Na Lallemand, nós realizamos parcerias científicas no mundo inteiro, em particular com universidades e institutos de pesquisa, com o objetivo de estudar uma grande quantidade de microrganismos, o papel que exercem no solo ou a interação que estabelecem com as plantas. Selecionamos as estirpes que apresentam interesse agronômico por triagem genética para propô-los aos agricultores.
As propriedades de um microrganismo devem estar presentes claramente na etiqueta.
7 - Quem os produziu?
Produzir unicamente os microrganismos desejados em muito alta concentração garantindo-lhes estabilidade e eficácia sem deixar fermentar os patógenos que estivessem ali por acaso, necessita procedimentos altamente especializados.
Algumas empresas especializadas e reconhecidas são capazes de propor inoculas de qualidade. Elas possuem fermentadores que permitem regular com precisão todos os parâmetros para uma fermentação ótima de cada microrganismo. Pois cada microrganismo possui exigências próprias que devem ser descobertas acima de tudo: alguns gostam de se multiplicar nas atmosferas ricas em oxigênio (ou não), alguns necessitam nutrientes específicos (oligoelementos), uma certa pressão, uma certa luminosidade etc.).
Eles devem, em seguida, ser formulados para que se conservem o maior tempo possível, permaneçam vivos, estáveis, inclusive depois de aplicados nos campos.
É uma profissão muito especializada que não permite improvisações e, infelizmente, existem pequenos produtores e grandes industriais, que negligenciam as boas práticas e, às vezes, omitem exigências regulamentares comercializando produtos do tipo “pós miraculosos” que contribuem com a descredibilização dos benefícios dos microrganismos.
Na Lallemand, nós produzimos nossos microrganismos em nossas próprias fábricas repartidas no mundo inteiro. Nossos laboratórios e nossa fábrica piloto em Blagnac (França), nos permitem formular nossos microrganismos para propor produtos mais concentrados a preços competitivos.
Se você deseja obter mais informações, você pode fazer uma visita virtual de nossa fábrica de Salutagüse na Estônia:
O produtor deve estar claramente indicado na etiqueta.
8 - Se eles estão presentes naturalmente, por que acrescentar microrganismos?
Mesmo se é um fato comprovado que as plantas e os microrganismos vivem em simbiose desde sempre, essas relações levaram dezenas ou centenas de anos a se instalar.
Ao modelar a paisagem e criar novos biótopos em territórios muito importantes, a agricultura revolucionou o conjunto de equilíbrios preexistentes.
E isso, de modo quase instantâneo na escala do tempo necessário para a instauração de um ecossistema estável (no mínimo 50 anos, de acordo com o IDDR) e sem comparação com o tempo necessário para a instauração de uma simbiose ou de um mutualismo pela coevolução que requer, por sua vez, muitos milhares de anos!
É pouco provável que as plantas agrícolas tenham uma oportunidade de recriar naturalmente um ecossistema microbiano ótimo em uma escala de alguns meses (ou mesmo de alguns anos).
Ao propor aos agricultores microrganismos que apresentam um interesse para as culturas, o objetivo é completar certas funções da planta nessa área da nutrição e da resistência aos estresses abióticos e bióticos.
Ao associar dois tipos de genética ao campo, desejamos criar um novo organismo híbrido (planta / microrganismo), cujo efeito de heterose é desejado.
Mas além das inoculações possíveis, consideramos que as rotações ou sucessões de plantas ao nível parcelar, também devem ser consideradas como ecossistema.
Essa iniciativa somente assume todo o seu valor econômico e técnico se for associada a uma lógica da fertilização (mineral e orgânica), da rotação do trabalho do solo, a fim de expressar, da melhor forma, os potenciais genéticos da planta e do(s) microrganismos associados.
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